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Os homens do alguidar

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O poder político, hoje na Europa reduzido à pilotagem automática das grandes centrais partidárias, serviçais de interesses banco-imobiliários e tecnológicos, pode ser na origem comparado a um gigantesco reservatório de água. É para aí que confluem os interesses centrais da toda uma sociedade, as expectativas médias dos seus agentes económicos, os interesses razoáveis de uma […]
Os homens do alguidar

O poder político, hoje na Europa reduzido à pilotagem automática das grandes centrais partidárias, serviçais de interesses banco-imobiliários e tecnológicos, pode ser na origem comparado a um gigantesco reservatório de água. É para aí que confluem os interesses centrais da toda uma sociedade, as expectativas médias dos seus agentes económicos, os interesses razoáveis de uma classe numerosa, caracterizada por não ser nem demasiado pobre nem demasiado rica. Uma classe média é portanto aquilo que mantém essa imaginária tina de água em estado de equilíbrio ou seja, consideravelmente cheia. Uns quantos por infortúnio mantêm-se na situação de pobres enquanto a fortuna sustém a outros na condição de ricos. Numa sociedade assim descrita, o princípio da conservação da massa impõe o vazamento ou o enchimento da tina sempre que o número daqueles que estão em posições extremas (pobreza ou riqueza), respectivamente, aumenta ou diminui. Dado não ser conforme com a natureza humana o queixarem-se aqueles que passam de remediados à condição de ricos, é pois o sofrimento dos pobres e a passagem à condição de pobres dos remediados que na sociedade produz o essencial do descontentamento social. Num sistema democrático é absolutamente essencial, sempre que acontece um grande vazamento (que em regra só é grande se for na direcção da pobreza), a intervenção dos chamados “homens do alguidar”: aqueles homens (ou mulheres) que, gerados na e pela “cultura central” da sociedade, procuram a todo o custo evitar que a água escorrente da tina se encaminhe para algum reservatório alternativo, lateral, do sistema, ou simplesmente que se espalhe de forma desordenada pelo chão. Água é poder, e melhor que ninguém disso sabem os “homens do alguidar”. A sociedade portuguesa, tal como muitas das suas congéneres democráticas europeias e ocidentais, tem assistido desde há mais de uma década a um feroz ataque a uma classe média outrora prevalecente e estruturante da sociedade, basicamente constituída por funcionários públicos de carreira, profissionais liberais e pequenos e médios empresários. O resultado desse ataque foi o surgimento de “novos pobres” que, como tal, representam um grande vazamento de água da tina imaginária. Os partidos centrais, principalmente o PS e o PSD, vêem-se então na contingência de terem de colocar em campo os seus “homens do alguidar”, qualificação que serve (ou serviu) tão bem a Manuel Alegre (PS) como a Luís Filipe Menezes (PSD), e que são em regra mais no caso do partido de centro que está na oposição. A infelicidade é que nem estes homens estão preparados “culturalmente” para sentirem os problemas da “nova pobreza” (que só talvez pelas qualificações dos visados se distingue da pobreza “convencional”), nem os que à esquerda e à direita gerem os reservatórios alternativos, os tradicionais e os pretensamente “novos” pela excentricidade. A vontade de ser governo cega quando se está próximo, mas a realidade é a cultura e são as preocupações nucleares, mais ou menos excêntricas, de uma classe política gerada num contexto essencialmente diferente, quando a tina de água ainda estava razoavelmente cheia. Ceder ao ardil dos “homens de alguidar”, crendo na possibilidade de uma mudança em substância do rumo das políticas (alienigenamente determinadas) do PS/PSD, ou sucumbir à tentação de verter a gota de água nova num velho barril de rígidas aduelas, não parece ser solução, a curto/médio prazo, para os descontentes que vertem para a cuba enchente dos pobres. A esquerda crescerá como é normal nestes casos, mas isso não muda o figurino. Para que a grande tina permaneça, ela que é fundamental para a democracia, é necessário que os ricos não sejam tão ricos nem os pobres tão pobres. Mas isso não é suficiente. É também necessário que haja uma mudança da “cultura do centro”, ajustando-a aos novos tempos e realidades, o que quer dizer que a velha tina já não serve e terá de ser mudada. Até lá, aqui e noutras partes do mundo, muita água se espalhará irremediavelmente pelo chão. Há que dar tempo ao tempo. Valdemar Rodrigues

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