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Isabel Castanheira antevê grandes dificuldades para o comércio das Caldas

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A Isabel Castanheira, da Livraria Loja 107 tem sido uma pessoa muito activa na dinamização de variadas actividades nas Caldas da Rainha. Não só divulgou a cultura portuguesa trazendo até a cidade alguns dos melhores escritores portugueses como tem feito muito pelo Comércio Tradicional e pela promoção da cidade. A sua acção cultural é reconhecida […]
Isabel Castanheira antevê grandes dificuldades para o comércio das Caldas

A Isabel Castanheira, da Livraria Loja 107 tem sido uma pessoa muito activa na dinamização de variadas actividades nas Caldas da Rainha. Não só divulgou a cultura portuguesa trazendo até a cidade alguns dos melhores escritores portugueses como tem feito muito pelo Comércio Tradicional e pela promoção da cidade. A sua acção cultural é reconhecida em todo o país. Em 1976, Isabel Castanheira, abriu a Livraria Loja 107 na R. Heróis da Grande Guerra, no centro da cidade. A livraria conquistou o respeito do circuito livreiro português e destacou-se na cidade onde, a par da venda de livros, a empresária promoveu cafés literários com a presença do mais diversos autores. A cidade das Caldas da Rainha atribuiu a Isabel Castanheira uma medalha de ouro. A Assembleia Municipal deu-lhe um louvor pelo trabalho desenvolvido em prol da Cultura e os Rotários das Caldas já a distinguiram como Profissional do Ano. A BookTailors e a Câmara Municipal da Povoa do Varzim deram-lhe o prémio nacional para a Melhor Livreira. Em 2011, a pouca venda de livros acelerou o fim do negócio de 35 anos. A empresária diz que a Loja 107 está em dificuldades e pondera vir a encerrá-la em Setembro. Mesmo com o encerramento da Livraria, Isabel Castanheira vai continuar activa na sociedade das Caldas da Rainha. Os caldenses têm um grande carinho pela livreira e dão muito valor às suas ideias. JORNAL DAS CALDAS – Quando foi homenageada pelo Rotary Club há uns anos trás como profissional do ano, criticou Caldas da Rainha afirmando que era uma cidade triste e que estava a morrer. Agora, com o passar de vários anos, como vê a cidade? Isabel Castanheira: Deixe-me, antes de mais, agradecer as suas simpáticas palavras iniciais. E agora, em resposta à sua pergunta, o que fiz por altura da homenagem do Rotary Club, mais não foi, em meu entender, do que uma avaliação minuciosa da nossa cidade. E se realmente essa avaliação foi considerada negativa (não seria melhor chamar-lhe realista?), passados estes anos, a minha apreciação, em sentido genérico, continua a ser precisamente a mesma, agora agravada pelos diversos factores que condicionam o fecho da livraria. J.C. – Dedicou 35 anos à sua livraria. É uma pessoa que conhece muito bem o Comércio Tradicional das Caldas. Como vê o futuro do Comércio Tradicional das Caldas da Rainha? I.C.: Antes de falarmos sobre os 35 anos que dediquei à livraria, vem mesmo a calhar referir um aspecto para que Rui Ramos, na sua última crónica do Expresso, chama a nossa atenção: nestes últimos distúrbios no bairro de Clapham Junction, em Londres, foram saqueadas todas as lojas, menos uma. Uma livraria. O seu conteúdo não tinha valor de saque… No que respeita ao comércio dos livros, este alterou-se grandemente nestes trinta e cinco anos: quanto à divulgação, à quantidade de livros publicados, ao tipo de livro, ao processo de venda, para não referir a «qualidade» literária de muitos livros publicados. O livro conhece, actualmente, uma divulgação como nunca conheceu em nenhum período da sua existência. Será essa majoração directamente proporcional aos hábitos de leitura? Tenho as minhas dúvidas. E os livreiros, quer considerados como comerciantes do livro quer como conhecedores do seu conteúdo, têm vindo a tornar-se desnecessários. Hoje em dia o que se pretende são gestores de produto, que mantenham sempre as prateleiras bem abastecidas e que saibam negociar contrapartidas com os fornecedores. Se o produto livro tiver uma capa sedutora, destinada a provocar a compra por impulso, tanto melhor… Mas há outros factores a ter em linha de conta: a compra pela Internet, os e-books, as edições on-demand. E bastam alguns destes factores, para fragilizar as pequenas livrarias, de mercado reduzido, ditas independentes, existentes nas pequenas cidades. Não se realizam vendas em quantidade suficiente para suportar todos os encargos inerentes a uma gestão comercial. E convidar e trazer autores conhecidos, dá prestígio mas não lucro. Aliás, tal prática traduz-se num custo para quem a promove. Se ter oferecido aos caldenses o contacto directo com alguns dos autores de maior nomeada das letras portuguesas fosse rentável, neste momento, em vez de estar a dar-lhe esta entrevista sobre o fecho da livraria, quem sabe se não estaria de férias numa qualquer praia paradisíaca do Índico… Mas voltemos à sua pergunta. Sem querer fazer quaisquer vaticínios sobre os amanhãs, a minha experiência, a minha sensibilidade e a análise da realidade, somados aos condicionalismos económicos presentes, obrigam-me a ter uma atitude extremamente prudente acerca do futuro do Comércio Tradicional das Caldas. Vivemos tempos de mutações constantes, sejam elas económicas, sociais ou políticas. O Comércio Tradicional de uma cidade como as Caldas da Rainha, não será só aquilo que os comerciantes quiserem. Será o que as condições criadas permitirem, com particular ênfase para as políticas definidas e implementadas na cidade. O comércio não vive só por si. É uma parte integrante da cidade e será o que a cidade quiser que ele venha a ser, como elemento de desenvolvimento económico, criador de emprego, factor de riqueza, não só citadina mas regional. A agravar o caso temos a maldita crise. E digo maldita, porque ela existe, faz-se sentir no nosso dia a dia e não temos meios de escapatória. Quando as pessoas estão desempregadas, sofrem cortes nos vencimentos, têm cada vez mais impostos para pagar, não fazem compras. Não quero armar-me em ave de mau agoiro, mas antevejo grandes dificuldades para o sector comercial da nossa cidade, e muito maiores se for verdade o que para aí se diz sobre a provável existência de um novo centro comercial. J.C. – Isabel Castanheira em conjunto com outros empresários das Caldas tem dinamizado o centro da cidade nomeadamente em alturas festivas. Acha que esse esforço valeu a pena? I.C.: Respondo-lhe, plagiando Fernando Pessoa. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena…” Os esforços que alguns de nós, comerciantes, fomos desenvolvendo ao longo destes tempos, foram totalmente válidos. Basta um só dos nossos clientes ter ficado agradado com a nossa atitude, para que a acção tenha sido um êxito. Comércio é também conviver, proporcionar alegria, agradar. Embelezar as nossas montras, tornar as nossas ruas aprazíveis, criar a festa, também é desígnio comercial. O comerciante é um cidadão que, intrinsecamente, deseja que a sua cidade seja bela, esteja limpa, seja estimada não só por quem nela vive como também por quem a visita. Cada um de nós é como uma pequena partícula que concorre para o desenvolvimento, conservação e enriquecimento da cidade, porque a queremos viva, sadia e convidativa. J.C. – É uma pessoa muito ligada à cidade das Caldas e à sua cultura. Como é que se sentiu ao ver a cerâmica das Caldas morrer aos poucos? I.C.: Considero as Caldas da Rainha como a cidade do meu coração, porque foi a cidade que me acolheu e me permitiu trabalhar durante todos estes anos. E porque esta ligação é muito mais sentimental do que a do bilhete de identidade, sinto talvez um pouco exageradamente as suas dores e feridas. Uma certa cerâmica das Caldas morreu, mas entretanto temos muitos e bons artistas que ao criarem as suas obras, se libertam da marca local e universalizam as suas criações. Isso é bom. Quanto às cerâmicas tradicionais, umas acabaram, outras remodelaram-se, outras subsistem… A marcha inexorável dos tempos assim o dita. Mas elas existirão sempre, guardadas nas nossas memórias ou, dito com mais realismo, expostas nos nossos museus. Conhecendo como conhece o meu particular interesse pela obra de Rafael Bordalo Pinheiro, não quero deixar passar a oportunidade de, mais uma vez, insistir na ideia de fazermos da nossa cidade a cidade de Bordalo Pinheiro. A sua herança, tão rica, tão peculiar, tão irreverente, serviria de inspiração motivadora de mudança. Ainda me é possível sonhar, não é? J.C – Já é público que a Loja 107 está a atravessar graves dificuldades económicas que podem levar ao seu encerramento. O que é que acha que pode ser feito para continuar com a sua livraria? I.C: Ganhar o Euro milhões em semana de jackpot, ou seja alcançar o inacessível. J.C. – Numa entrevista que deu há pouco tempo a Isabel Castanheira disse que também outros comerciantes das Caldas estão a sofrer o mesmo que a Loja 107. Disse ainda que a cidade tem de pensar no caminho que quer tomar pois ninguém quer uma cidade deserta, ignorante e feia. As pessoas das Caldas dão muito crédito às suas ideias. Qual o caminho que acha que a cidade deve seguir? I.C.: Agradeço-lhe que diga que os caldenses dão crédito às minhas ideias. A avaliação que faço e a ideia de que é necessária uma profunda renovação citadina, não são minhas. Sendo certo que não posso, nem quero, falar pelos comerciantes das Caldas posso ainda assim referir, em resultado de muitas conversas tidas com vários que sentem como eu, um conjunto de factores prejudiciais ao amplo desenvolvimento da nossa capacidade comercial. E esses factores, a respeito dos quais já tivemos a oportunidade de conversar com a edilidade caldense, prendem-se com o estado da cidade, a sua limpeza, os grafittis, os empedrados esburacados, a falta de sinalização, a iluminação deficiente, os problemas de estacionamento, etc, etc. Pergunte a quem quer que passe. Todos nós o sabemos. Falta-nos talvez ambição e capacidade de concretização. Um dos problemas que deverá ser encarado com maior determinação é o da complexa questão relacionada com as termas. Desde há pelo menos quarenta anos que ouço dizer que toda a problemática termal tem que ser resolvida. E sempre ouvi falar de planos e mais planos. Pedindo desculpa a espíritos mais sensíveis, tomo a liberdade de plagiar a frase escrita numa parede, no Alqueva, muito antes da sua construção: – «Resolvam-se, porra!» Não somos nem um país nem uma terra com tantos recursos que nos possamos dar ao luxo de não aproveitar, na sua totalidade, toda a nossa riqueza termal que está na génese da existência das Caldas, como cidade. Mas a presente conjuntura nacional, não facilita de modo algum a nossa necessidade e vontade de mudança. J.C. – Continua a gostar desta cidade? Sente-se triste com o rumo que Caldas da Rainha levou? I.C.: Gosto das Caldas, sim. Sinto-me triste com o presente mas há que ter esperança no futuro. Afinal as Caldas é uma cidade igual a tantas outras cidades de dimensão semelhante neste país que, em certo período, se deslumbraram com um aparente desenvolvimento, um sub-urbanismo descaracterizador, esquecendo que os seus centros são as suas verdadeiras marcas existenciais. Talvez ainda seja possível repensar a opção adoptada e valorizar o que nos torna diferentes, seja a Praça da Fruta, as trouxas, o Parque, as cavacas, a Senhora do Pópulo, o CCC, as termas, a cerâmica… Façamo-nos valer do que faz a nossa diferença e não apostemos na boçalidade banal. J.C. – A conjuntura económica do país não tem ajudado as Caldas? Acha que o nosso executivo camarário podia ter feito mais pela cidade? I.C.: A conjuntura económica teve reflexos em todo o país e portanto as Caldas também estão a ser afectadas. Somos essencialmente uma cidade de comércio e serviços por isso facilmente exposta a perturbações económicas. Quanto à sua segunda pergunta, não me compete avaliar o desempenho do executivo camarário, tanto mais que ele resulta de uma votação massiva dos cidadãos caldenses, que de quatro em quatro anos fazem uma escolha com base na sua avaliação. J.C. – Trouxe a Caldas da Rainha os mais consagrados autores da literatura portuguesa desde Saramago, Lobo Antunes, Mia Couto, e muitas figuras públicas que editaram livros como Fátima Lopes, João Garcia (Alpinista), Gato Fedorento, os Gato Fedorento, Nuno Markl , entre outros. Também sempre teve uma atenção especial aos autores locais promovendo as suas obras. Destas figuras todas qual a marcou mais? I.C: Os segredos da minha alma e os amores do meu coração nem às paredes os confesso … J.C. – Se tivesse que ir morar para outra cidade portuguesa ou para outro país onde é que gostava de residir? Porquê? I.C: Ia para o País das Maravilhas acompanhada da Alice em busca do gato de Cheshire. País às avessas, antes aquele que este. J.C. – O que é que gosta mais nas Caldas da Rainha? I.C: Dos Caldenses, obviamente, se bem que com algumas excepções… J.C. – Os Caldenses têm um carinho muito especial por si. Quer deixar-lhes uma mensagem de esperança? I.C: Agradeço esse carinho e como não tenho muito jeito para mensagens, deixo em jeito de reflexão uma frase de Victor Hugo, retirada de “Os Miseráveis”: “Chega sempre a hora em que não basta protestar; após a filosofia a acção é indispensável.” Marlene Sousa

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