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Memórias da Guerra na Guiné Frutuoso João Ferreira foi 1º cabo-atirador do Batalhão de Cavalaria 8323, na Guiné, em 1973/74. Nasceu em Abelheira, Lourinhã, há 56 anos. Antes de cumprir serviço militar foi pedreiro da construção civil. Depois, quando regressou da Guiné à sua terra-natal, continuou nessa profissão por mais quatro anos. Em 1978 tornou-se […]
Frutuoso Ferreira

Memórias da Guerra na Guiné Frutuoso João Ferreira foi 1º cabo-atirador do Batalhão de Cavalaria 8323, na Guiné, em 1973/74. Nasceu em Abelheira, Lourinhã, há 56 anos. Antes de cumprir serviço militar foi pedreiro da construção civil. Depois, quando regressou da Guiné à sua terra-natal, continuou nessa profissão por mais quatro anos. Em 1978 tornou-se guarda-fiscal. Desde 2005 que está em situação de reserva da Brigada Fiscal da GNR. É casado, tem um filho de 35 anos e um neto com 12. Assentou praça em Elvas, no Batalhão de Caçadores 8, em 14 de Maio de 1973, e foi tirar a especialidade em Estremoz, no Regimento de Cavalaria 3. Tinha 20 anos. “Quem vivia nos meios rurais, como era o meu caso, de política pouco ou nada conhecia, mas como qualquer bom português que se prezasse, o ânimo que tínhamos era que estávamos a servir a Pátria”, relata. No dia 22 de Setembro de 1973 embarcou no Niassa, “com muita tristeza, porque tinha casado em Março e já era pai, uma vez que o meu filho tinha nascido a 26 de Agosto”. “Ter de abandonar a família foi doloroso”, recorda. Ia o Batalhão de Cavalaria 8323 e mais dois outros batalhões e uma companhia. Levaram uma semana a chegar à Guiné. Alcançaram Bissau e entraram em lanchas que os transportaram até à ilha de Bolama, onde estiveram um mês a tirar o IAO – Instrução Aperfeiçoamento Operacional. “Era uma formação como se fosse combate real”, aponta. O batalhão adoptou o nome “Os cavaleiros do Gabú” (Gabú era a região onde esteve). O comandante do Batalhão era o coronel Jorge Mathias, da Ericeira. “Eu estava no 4º pelotão da 3ª companhia, comandada pelo capitão Ernesto Brito, de Lisboa. O alferes Alípio Cunha, de Vila Nova de Famalicão, comandava o meu pelotão e havia três furriéis – o Sousa, o Simão e o Esteves. Os outros comandantes de pelotão eram os alferes Manuel Gonçalves, Rodrigo Coelho e António Pereira, respectivamente do Fundão, Pinhel e Amarante”, descreve. O comandante da Companhia de Comando e Serviços (CCS) era o tenente Francisco Costa, de Coimbra. O capitão ngelo Cruz, da Amadora, chefiava a 1ª Companhia, enquanto que o capitão Aníbal Tapadinhas, de Lisboa, comandava a 2ª. Integrava ainda o Batalhão a Companhia de Caçadores 11, que tinha à frente o capitão Nuno Sousa, de Lisboa. “Quando acabou a formação, regressámos no dia 31 de Outubro a Bissau e deslocámo-nos para Pirada, uma pequena povoação que ficava a poucos metros da fronteira do Senegal, onde o inimigo – os guerrilheiros do PAIGC – tinha algumas das suas bases”, indica. Em Pirada estava a CCS e a 3ª companhia. “A nossa missão era proteger o quartel-general e as populações locais – os brancos que lá havia era só um casal de comerciantes e a filha – e patrulhar constantemente aquela zona para que o inimigo não tivesse nenhuma progressão no terreno. Havia um campo de minas e todos os dias íamos lá para ver se tinha acontecido alguma coisa. O certo é que os guerrilheiros do PAIGC nunca foram ao pé do arame farpado para nos atacarem”, lembra. “Mas desde a fronteira eles disparavam mísseis e nós respondíamos com os velhos obuses 14, que tinham menos alcance”, sublinha. “A 1ª companhia foi para Paunca e a 2ª para Bajocunda e nós tínhamos de ir abastecê-las. Foi numa dessas alturas que passei o primeiro susto e momento aflitivo. Quando íamos para Bajocunda, a 13 de Dezembro, foram detectadas várias minas anti-carro. Toda a gente se protegeu, ficando só o sapador da CCS – o soldado Fernando Almeida – que as levantou. Repetiu a operação quatro vezes, só que a seguinte foi-lhe fatal”, narra. “Gritava ele para o alferes Alípio Cunha, dizendo-lhe, satisfeito, que ao levantar a quinta mina já tinha dinheiro para ir à metrópole de férias (a passagem de avião custava cerca de quatro mil escudos – 20 euros) – os sapadores recebiam do Estado mil escudos (cinco euros) por cada mina anti-carro que levantassem – mas a mina estava armadilhada com outra anti-pessoal e rebentou”, prossegue. “O corpo ficou todo desfeito aos bocados, espalhados pelo mato. Um pé foi cair à minha frente. Juntou-se o que se pôde e ficámos muito impressionados e desmoralizados. Não estávamos assim há tanto tempo na Guiné e já havia uma baixa. A partir daí sentimos que estávamos na guerra a sério”, comenta Frutuoso Ferreira. No dia 18 de Dezembro houve um ataque inimigo a Amedalai e a 7 de Janeiro houve em Bajocunda uma emboscada com armas ligeiras a uma coluna que ia abastecer um pelotão que estava em Copá. Morreram dois soldados – Sebastião Dias e José Correia, da 2ª Companhia, que ficaram em cima das duas Berliés destruídas. O pelotão a que pertencia foi escalado para ir lá buscar os corpos e tentar trazer o que restava das viaturas, operação difícil mas conseguida. Durante o mês de Fevereiro registaram-se várias investidas em Copá e Bajocunda. A 1ª companhia também sofreu ataques e morreram o 1º cabo António Ribeiro e os soldados Rui Patrício, Silvano Alves e José Oliveira. “Passados uns dias fomos fazer protecção a Sissaucunda, povoação a quinze quilómetros de distância de Pirada, com meia dúzia de palhotas. Cada pelotão permanecia naquele fim do mundo durante um mês. A nossa alimentação era ao almoço arroz com marmelada e ao jantar esparguete com atum. No dia seguinte era quase a mesma e só variava com arroz com salsicha”, conta. O PAIGC quis juntar-se à ‘’festa” e no dia 13 de Abril brindou-os com um ataque de mísseis lançados desde o Senegal. O destino era Pirada. “Vi os mísseis passarem por cima de Sissaucunda e começámos todos a correr para as valas escavadas no chão para nos protegermos. Sentia os mísseis a ‘assobiarem’ por cima de nós e poucos segundos depois a caírem em Pirada. O objectivo deles era atingir o quartel, mas caíram na povoação e mataram muitos civis”, descreve. No dia 25 de Abril o PAIGC voltou a atacar Pirada e mataram civis africanos, mas “da nossa parte não houve feridos nem baixas”. A partir de 25 de Abril de 1974, em virtude das modificações políticas ocorridas em Portugal, “não tivemos mais problemas na Guiné, porque iniciaram-se os contactos e conversações com os chefes da zona, entre as nossas tropas, o PAIGC e a população. Ainda bem que assim foi, porque a guerra estava tão acesa naquele sector, que se tem continuado mais tempo não sei se estaria cá para contar a história”. “A primeira vez que encontrámos o inimigo já como amigo, na fronteira do Senegal, houve um sentimento estranho. Mas baixaram as armas e começámos a trocar tabaco e bonés”, conta. E adianta: “Passámos o resto do tempo a recolher material bélico e na companhia do PAIGC a fazer propaganda política”. A 21 de Agosto procedeu-se à entrega de Paunca ao PAIGC. No dia seguinte foi a vez de Bajocunda e a 25 de Agosto seguiu-se Pirada, com a recolha da CCS e da 3ª Companhia a Bissau. Ainda prestou serviço no quartel-general em Bissau a guardar o palácio do brigadeiro Carlos Fabião, comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné. No dia 4 de Setembro, na parada do BCP 12, em Bissalanca, cerca de 500 homens do Batalhão de Cavalaria 8323 uniram-se em formatura geral, “sentindo cada homem palpitar dentro do seu peito a dignidade do soldado português, que enfrentou os perigos de uma guerra dura”, manifesta Frutuoso Ferreira, que regressou a Portugal no dia 12 de Setembro de 1974. Francisco Gomes (texto)

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