Centenas de crianças saíram à rua no Dia de Todos os Santos no concelho das Caldas da Rainha para pedir o “Pão por Deus”. Juntaram-se em pequenos bandos para irem de porta em porta, enchendo os sacos de pano de doces, bolachas, rebuçados, chocolates, castanhas, nozes e amendoins. No Avenal a tradição ainda se mantém com grande vigor. Com um tabuleiro de verga cheio de saquinhos de guloseimas que preparou para as crianças, Teresa Duarte fez questão de não sair à rua na manhã de 1 de Novembro. “De ano para ano há mais garotada, famílias que residem noutros bairros vêm até o Avenal com os filhos por ser um local mais tranquilo, com vivendas e com pouco trânsito”, disse. Com 54 anos, recordou o “Pão Por Deus” na sua infância numa aldeia na Batalha. “Noutros tempos, em que a fome apertava, este era o dia das crianças conseguirem angariar alguns alimentos”, lembrou Teresa Duarte acrescentando que, “na altura não se davam guloseimas porque praticamente não havia, portanto era comum os vizinhos darem tremoços, bolinhos e fruta”. A professora Fernanda Barahona, que mora no Avenal há mais de 15 anos, introduziu naquele bairro a troca de bolinhos caseiros. “Na Batalha, minha terra de infância, vivia-se muito o 1 de Novembro, trocavam-se receitas de bolos e tentei colocar esse espírito aqui no Avenal com os meus filhos, quando eles eram pequenos”, explicou. Gina Filipe é dos Estados Unidos e vive há cerca de dois anos no Avenal. Na véspera do 1 de Novembro fez questão de assinalar a “noite das Bruxas” com uma festa de Halloween na sua casa. “O Halloween faz parte da minha infância e quero transmiti-lo ao meu filho, como também quero que ele viva a tradição portuguesa que é o Pão por Deus”, referiu. Amélia Bernardes fez os saquinhos individuais para dar aos meninos. “O meu marido tem muito gosto nisto e faz os saquinhos para as crianças”. Segundo Amélia Bernardes, vão sempre muitas crianças ao Avenal. “A tradição mantém-se mas noto que os meninos vêm de ano para ano mais acompanhados pelos pais, nos tempos de hoje é perigoso deixar as crianças sozinhas devido à pedofilia e aos raptos”, apontou. Ana Margarida, que reside na Quinta da Cutileira, levou a filha e umas amigas dela ao Avenal para o Pão por Deus, porque tem menos trânsito. “Há quem diga que a tradição já não é o que era, mas em Portugal o Pão por Deus tem ao longo dos tempos passado de geração em geração. Na manhã do dia 1 de Novembro as crianças juntam-se em pequenos grupos e vão pedindo de porta em porta. O objectivo é sempre o mesmo, encher o saco, que antigamente era de pano, de guloseimas”, manifestou. Fora da cidade também se viveu o Pão por Deus. Por exemplo, no Jardim de Infância de Salir de Matos, o educador José Frazão contou que “o Pão por Deus é preparado com antecedência. Primeiro fazemos uma actividade plástica com os meninos onde eles preparam os sacos de pano, depois cada sala faz um alimento para distribuir pelas outras salas. Este ano fizemos broas, biscoitos e salame de chocolate. Depois, no dia, os meninos vão pedir o Pão por Deus às outras salas e como estamos situados numa aldeia costumamos sair à rua, a casas de alguns vizinhos e ao café, mas como este ano esteve a chover, as pessoas vieram ao infantário dar os bombons às crianças”. Marlene Sousa